terça-feira, 6 de março de 2012

JAMES NACHTWEY


Faz tempo que eu não posto? Faz.


E eu estou preparando a migração do VISAO GERAL para o meu novo site ANDREFACHETTI.COM - exclusivo para fotografia - e que terá uma área especial para este blog?  Estou.


Mas como este VG ainda está aqui, eu estou aqui e vocês também ("- Alo, tem alguém aqui?), ´bora esquentar o ambiente.
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Escrevo hoje pelo prazer de escrever e contar algo que surpreende e merece partilha.

Escrevo no impulso, mesmo. Já havia tido o primeiro impacto dias atrás; agora, pesquisando algo sobre este americano de Massachusetts, senti aquele estalo que me faz abrir uma pagina de blogspot pra contar.

JAMES NACHTWEY (1948).



Fotógrafo de Guerra. Ou, na nada humilde manifestação do cineasta alemão Win Wenders, "o cara que vai aonde os outros só dizem '-Eu quero sair daqui'".

O cara que, fotografando a miséria, a morte, os horrores, acabou de ganhar, agora em Fevereiro/2012,  um Dresden International Peace Prize: ou seja, foi condecorado com um prêmio pela paz ao revelar-nos os horrores da guerra, da fome, do abandono (mais aqui e aqui).

Um sem-número de críticos dirão: "- Essas fotos do horror sempre vendem, causam comoção"; "- Por quê explorar a miséria?".


Abram seus olhos! A função do jornalismo de guerra - e a função que James Nachtwey cumpre com rigor - é a de trazer à tona os horrores que governos, imprensa, indústria e tantos outros "fatores reais de poder" (na lição de Direito Constitucional de Ferdinand Lassale) tentam nos impedir de enxergar.

Ou você acha que é apenas interessante e charmoso retratar e expor rostos cicatrizados, corpos em vala-comum, crianças em meio ao caos? Isso é pura manifestação contrária à guerra, ao horror, à morte.


As suas fotos de guerra são uma ode à paz. E isso não é paradoxal.

Nachtwey tem consciência firme de seu papel, tem noção clara de sua atividade, e não se acha acima do bem e do mal, imune a questionamentos sobre sua atividade, sobre o que vê e sobre como transporta isso para o mundo. Não à toa, afirma: "- A pior coisa a sentir como fotógrafo é que estou me beneficiando da tragédia do outro".

Nas palavras dele:

...a força da fotografia reside na sua capacidade de evocar um senso de humanidade. Se a guerra é uma tentativa de negar a humanidade, então a fotografia pode ser percebida como o oposto de guerra, e se é bem utilizada pode ser um ingrediente poderoso no antídoto para a guerra.
De certa forma, se um indivíduo assume o risco de se colocar no  meio de uma guerra, a fim de comunicar ao resto do mundo o que está acontecendo, ele está tentando negociar a paz. Talvez seja essa a razão pela qual  os responsáveis por perpetuar uma guerra não gostem de ter fotógrafos por perto. 
Ocorreu-me que se todos pudessem estar lá apenas uma vez [...] para ver por si mesmo medo e a tristeza, então eles entenderiam que não vale a pena deixar as coisas chegarem ao ponto onde isso acontece a apenas uma pessoa, quem dirá a milhares. (tradução livre de http://www.christian-frei.info/dvd/christian_frei-booklet_en.pdf )


Uma análise mais cuidadosa da linguagem de seu trabalho apresenta-nos um fotógrafo que não procura as imagens estando a léguas da personagem. Ao contrário, as imagens são próximas, grudadas, cara a cara com o motivo. Não se tratam de poderosas tele-objetivas-quase-telescópios: são grande-angulares, por vezes objetivas fixas, que forçam o jornalista a contracenar com a realidade retratada, a ir até onde a coisa ocorre, a se misturar, a quase pedir desculpas pelo que está fazendo entre feridos, entre lágrimas, entre o horror. E assim mantém um diálogo com a cena, com o meio, com o seu meio. Concentrado, focado.

Por isso, as imagens remetem a uma interação fortíssima entre fotógrafo e fotografado - e daí com o observador: nós. Seja um corpo ao chão,  um doente terminal,  uma criança rodeada de terror mas de olhos vivos de esperança, a fotografia de James Nachtwey é uma intimação à reflexão. No fim, ficam claros o respeito e a sutileza com a qual o jornalista anda em meio à devastação.




Tendo fotografado conflitos, campos de refugiados, cemitérios clandestinos; tendo estado ao lado do fotógrafo Ken Oosterbroek quando este foi mortalmente alvejado na Africa do Sul  (a historia é bem retratada no livro "O Clube do BangBang"); tendo trabalhado em Ruanda, Afeganistão, India, Nicarágua, Chechenia, Israel, Kosovo e onde mais houver algo a ser testemunhado, é daqueles que já gravaram o nome na história da fotografia e da imprensa mundial.




Aqui você pode ver a participação dele no TED2007 (não é pouca coisa não).


Apesar de já ter visto algumas de suas fotos, só fui conhecê-lo de verdade assistindo ao excelente documentário WAR PHOTOGRAPHER de 2001, apresentado pela TV Cultura em plena semana do Carnaval (uma grata surpresa, não?). Vale a pena procurar, vale a pena mandar email pra Cultura reprisar, vale a pena comprar o DVD (com legenda em portugues, de preferência) e presentear este escriba, aqui.



E porque James Nachtwey é tudo isso, porque ele nunca deixou de acreditar que há uma razão por trás de seu trabalho, porque ele nunca deixou de acreditar que suas imagens têm efeitos, isso só é possível se o olho e o coração por trás delas tiverem uma fé inabalável e forem capazes de compaixão.

Por todas estas razões e muitas outras é que devemos parar de chamá-lo de "fotógrafo de guerra". Em vez disso, devemos olhar para ele como um homem  da paz, cujo desejo de paz o faz ir à guerra e expor a si mesmo, em favor de fazer a paz. Ele odeia a guerra com paixão, e ama a humanidade com bem  mais do que uma paixão .
(Win Wenders, na entrega do DRESDEN Peace Prize-2012)

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Seu eu gosto do CAPA? ´tá brincando, né? Ei-lo por aqui. Além disso....quem sou eu pra não gostar?

A questão é que o James Nachtwey é contemporâneo. Ele está onde meus olhos já viram e ele retrata coisas sobre as quais meus ouvidos ouviram falar "em tempo real". Agora há pouco, dias atrás, recentemente...

Isso me dá uma poderosa sensação de proximidade com o seu trabalho. Porque fala dos meus dias. E do meu futuro.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Laura que Vai Chegar!


Já falei aqui da alegria que é trabalhar fotografando a própria família.

Não é brincadeira, tem que ser pra valer:

Fazer as fotos do álbum de grávida da sua irmã. E do Bernardo, e da Marina. Com a Laura louca pra nascer - o que foi acontecer apenas 20 dias depois.

No fim, a gente teve certeza de que funcionou.

E como funcionou.

* música do slideshow: HUMMINGBIRD, da Dana Harper. Vale a pena ouvir o disco inteiro, mais tarde.
** essas e outras imagens no FLICKR

















quinta-feira, 6 de outubro de 2011

STEVE JOBS - Para Refletir um Pouco


Eu não sou nem um pouco conhecedor de técnicas de administração, pensamentos corporativos, dinâmicas empresariais etc (não sei nem se esses termos aí existem no meio empresarial, no marketing, mas isso dá a ideia do que quero dizer).

Também não sou usuário dos produtos da APPLE. Não tenho IPod, IPad, Macbook (slap! chicotadas do inferno serão aplicadas contra mim por usuários tarados que gritam o poder redentor dos produtos da Maça).

Mas eu reconheço e admiro esse cara com ar de coroa jovem, barba aparada e óculos de nerd modernoso:

A morte do Steve Jobs, nesta Quarta-Feira 05.10, vítima de câncer de pâncreas, me levou a pensar em algumas atitudes desse ícone dos tempos modernos:

A imagem que eu tenho do Jobs e da Apple é a de um visionário e de uma companhia que viveram à sombra dos outros gigantes Microsoft/Windows/Bill Gates; que foram tripudiados durante  vários tempos e em vários embates mercadológicos; que lutaram contra tudo e contra todos acreditando em um projeto que de alguma forma queria ser diferenciado (não me pergunte "no que" estaria esse diferenciado, eu não sei; mas é a visão que tenho).

E aí, nadando contra a maré, criador e empresa conseguiram colocar a cabeça para fora da tempestade - ou para dentro... - e foram ouvidos. E deu no que deu, não preciso explicar mais muita coisa.

Mas isso é pouco: a morte de Jobs me leva a enxergar, apenas agora, o arranjo de mestre (no sentido mais digno da expressão) que esse cara teve ao admitir que não poderia permanecer à frente da sua criação; a sua saída estratégica da frente dos negócios - a fim de dedicar-se a si mesmo, a partir de então, e a fim de manter sólida a engrenagem fantástica que ele havia criado mas não poderia continuar conduzindo.

Sequer poderia continuar representando - já que sua condição de saúde poderia ser diretamente atrelada à instituição APPLE - e arruinar parte do negócio (se não ele todo).

É o suficiente pra se começar a pensar...

Obrigado, Jobs. Não pela Apple. Não pelos I_Tudo. Obrigado pela lição de vida. Do começo ao fim dela.

*Se os conhecedores mais profundos da empresa e do criador quiserem adicionar elementos, contribuir com a historia e a reflexão - ou mesmo apontar algum equívoco meu sobre a trajetória sucintamente mencionada no texto, fique à vontade.


** Acabei de encontrar este video na VEJA.com. E eu tenho ainda mais certeza do que acabei de escrever


quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Entrevista para o Encontro e Café - Taynara Barreto

Fui entrevistado. Não no meio da rua, não correndo, não para falar de política em época de campanha.

Fui entrevistado no conforto do meu lar, para falar de FOTOGRAFIA: "Recorte do Tempo - André Fachetti"

Quem me deu a honra foi a @taynarabarreto, do delicioso Encontro e Cafe.

Com a permissão dela, o texto daquele espaço aconchegante invade o Visão Geral.

Salve, Taynara! Salve, sorrisos:



Recorte do tempo. André Fachetti


Quando uma pessoa se propõe a fotografar, ela quer registrar aquilo que traduz um momento, um detalhe que seja a representação de um sentimento ou fazer correr na imagem a vida e uma história. Esse é o meu pensamento sobre a fotografia.
Dizem que a fotografia é um recorte do tempo. Isso é maluco, mas concordo com a premissa. Por mais que você tente recriar, reviver aquele momento, ele não vai existir nunca mais, está preso ali, original, simples e único.
Ao ver o trabalho de André Fachetti, você percebe que os recortes são feitos com cuidado, perspicácia e extrema singularidade.




"- Bem...vejamos por onde começar... ficha técnica, serve? 1, 2, 3...testando, som...

André Fachetti Lustosa, 33 anos, um cachoeirense que gosta dessa terra sabe-se lá
porque; filho da D.Regina e do Seu Magno, casado e realizado com a Nívia.

O que eu sou?

Tenho aprendido a duras penas que eu não "sou" advogado e professor
universitário. Isso eu "estou", com muito orgulho - e com paixão.

Quanto a ser...ser é diferente. "Ser" é muito mais... Então, pra dizer o que eu "sou"
ainda vai demorar um tempo, pra eu mesmo descobrir por inteiro. Por hora, posso
dizer que sou o cara que sorri com a boca, com os olhos e com o coração.

E a fotografia...a fotografia tem me ajudado a sorrir e a fazer os outros sorrirem.

Tenho iniciado a venda de minhas imagens no que se convencionou chamar de
padrão Fotografia FineArt, ou seja: imagens de alto desempenho estético, para
decoração, registros em museus, salões, bibliotecas, exposições, galerias, com
impressão em jato de tinta adequadas para ressaltar as qualidades da imagem,
buscando papéis próprios e de qualidade máxima (preferencialmente os "fibras de
algodão", importados) e montagem visando à maior durabilidade (qualidade museu,
com materiais de PH neutro).

E aí, o que temos no cardápio desse Café?

Encontro e Café: O que é a fotografia e fotografar para você?

Eu sempre fui apaixonado por ler e escrever. Aprendi a ler as histórias dos outros
e comecei a contar as minhas próprias histórias nas redações, nos poemas, nas
crônicas, nas conversas fartas. Minhas atuais profissões – advogado e professor
universitário – são o exercício da arte de narrar, de buscar as personagens e seus
detalhes, de mostrar um outro mundo, ou o outro lado de um mesmo mundo para
as pessoas... E aí, mesclar sentimento, experiências, realidades particulares ou
coletivas com a técnica própria para que isso alcance o efeito necessário.

É nisso que a fotografia, para mim, se encaixa: eu estou aprendendo a mudar de
formato na hora de ler histórias e na hora de contar histórias. A fotografia tem sido
minha outra forma de expressão, minha nova forma de narrativa.

No fim, não se trata "apenas" de conseguir uma imagem bela. Se eu conseguir isso,
já é ótimo, mas o climax é conseguir lhe contar uma história, seja minha, seja de
outras pessoas, seja uma "história da História"; algumas vezes com mais alegria,
outras com mais crueza da realidade...

O ato de fotografar, de fazer o "clique", em si, é um instante que reúne o prazer,
a realização, a percepção de que a história está ocorrendo e eu tenho que saber
apreendê-la – mas traz todo o repertório de técnica sem o qual simplesmente não se
consegue transmitir uma mensagem.

Porque fotografar, para quem gosta mesmo, não é só apertar o botãozinho do
obturador.

E claro que tudo isso é fruto das minhas experiências anteriores, da minha criação,
da minha história individual. Outros fotógrafos, profissionais ou não, terão sua
maneira de caracterizar a fotografia e o ato fotográfico. Para mim, são narrativas,
num formato de luz.


EeC: Quando você está fotografando, você pensa no que o observador
vai sentir ao ver aquele momento registrado por você?

Delicado isso, hein? A linha entre fazer para transmitir uma mensagem ao outro e
fazer simplesmente para "arrancar elogios" ou "agradar" o outro é tênue. Essa última
não é minha intenção.

Eu diria que não faço para "agradar" o observador, não faço simplesmente
para tornar as coisas "fáceis" para ele (às vezes, temos mesmo que fazer para
incomodar). Mas é claro que eu tento transmitir a mensagem para alguém, e assim,
tenho que aprender a olhar não só com os meus olhos, mas também com os olhos
de quem vai me "ler".

Como isso vai ser visto, sentido, não dá para imaginar. Eu mesmo adoro certas
imagens que, para minha própria esposa, que às vezes estava ao meu lado na
hora da foto, não dizem muito; outras fotos eu acho boas e só, enquanto para meus
amigos, para outros fotógrafos, para compradores das minhas imagens, são grandes
fotos.

É interessante essa pergunta, porque me leva a lembrar de várias lições que já tive
sobre a arte da fotografia, e que se encaixam bem nesse momento:

O fotógrafo não apenas "retrata a realidade", ou "eterniza um momento fugaz".
Quando fotografa, o fotógrafo faz um corte na cena – o que você vê no quadro
clicado é parte de um cenário muito maior, um contexto onde o fotógrafo foi
trabalhando por inclusão (permitindo enquadrar certos elementos) e por exclusão
(de modo que certas coisas fiquem fora da imagem final).



É nesse espacinho que ele vai construir a sua narrativa – que pode retratar a
realidade ou até mesmo falseá-la, transmudá-la. Cabe a ele saber colocar mais
ou menos elementos para atingir seus objetivos. Igual a um texto, com mais ou
menos palavras – mas que vai bater no coração do outro segundo as experiências
particulares de cada um.

Já parou para pensar quantas histórias a foto "Menino com Parelha de Bois"* conta?
Já pensou quantas leituras podem surgir? Já pensou como essa "história" interaje
com as suas experiências? E nas experiências do outro, como isso funciona?

* "Menino com Parelha de Bois" foi finalista do Concurso Internacional de Fotografia Documental "Los Trabajos y Los Dias", em Medellin, Colombia-2011. A foto é de 2010, realizada em Venda Nova do Imigrante-ES.

EeC: Ao ver suas fotografias, percebo que elas estão carregadas de detalhes
muito profundos e ricos, como o olhar do homem na fotografia “Folia de um
Rei”, ou o menino com o carro de boi ("Menino com Parelha de Bois"). Quando
fotografa, como você vê que deve registrar esses detalhes?

Não vou mentir: às vezes, aparece na cena uma aura que a gente não imaginava,
uma beleza que a gente não viu no visor na hora da foto.



Mas a fotografia é consciência; portanto, sim: quando aparece um sorriso altamente
simbólico, eu desejei captá-lo. Quando o olhar do menino atinge o meu espectador,
eu desejei aquele olhar; com as minhas experiências, com a minha leitura particular,
mas eu o desejei. Assim também com as paisagens, com as formas e linhas
abstratas... Os "detalhes", então, podem ser o ponto central da fotografia ou um
elemento que coopera para o todo, depende da cena, do ambiente, até do meu
estado de espírito.



Um dos monstros sagrados da fotografia mundial, o francês Henry Cartier-
Bresson (1908-2004 - http://www.henricartierbresson.org), desenvolvedor do
fotojornalismo, cunhou a expressão "instante decisivo" ou "momento decisivo". No
começo, eu achava que isso era um momento mágico, como se a Lua, Terra, Sol e
Marte entrassem em conjunção astral e ...tchan! A foto mágica surgisse. Tolice:

Com o tempo – praticando e estudando – o próprio termo de Bresson foi se
explicando. Na verdade, agora vejo (e assim também muitos estudiosos descrevem)
que esse momento especial é "pré"reconhecido pelo fotógrafo, com o passar do
tempo, a prática, a experiência: pode ser uma questão de segundos, ou de horas,
mas o bom fotógrafo sabe que a cena vai ser montada na frente dele, sabe que a
criança vai correr, o ancião vai sorrir, a fumaça vai subir na hora e no local certo – e
a gente precisa esperar, antever, pois esse é o "instante decisivo", que vai capturar o
detalhe que importa na narrativa visual.

EeC: O que significa registrar o cotidiano de um determinado lugar para você?

Primeiro, a insegurança, o medo, o frio na barriga de ser capaz ou não de encontrar
a essência – ou "uma" essência. Depois, um sentimento de gratidão a Deus, por
me permitir a experiência única de fotografar; gratidão às pessoas que construíram
o local, construíram a magia do local; às pessoas que me permitem encará-las por
detrás de uma objetiva, entrando em seus segredos... alguns povos ainda acreditam
que a câmera fotográfica lhes toma a alma, certo?



Não quero aprisionar nenhuma alma, juro. Mas se eu puder levá-las para passear lá
em casa...

EeC: No Brasil, é comum falar-se mas incomum de se ver os famosos
fotoclubes. Como é para você participar de um? O que busca registrar nos
encontros e como vê o trabalho do fotoclube que participa, no Estado?

"Comum e incomum" foi boa... eu diria que fotoclubes e outros grupos que reúnem
fotógrafos pelo prazer de fotografar são igual OVNI´s: todo mundo já viu um, menos
a gente mesmo.  Eu participo do Grupo Cliques – Grupo de Fotografia Capixaba
(www.grupocliques.com.br) que tem "sede" em Vitória (a maior parte dos integrantes
é de lá), mas conta com pessoas de quase todo o Estado, e se propõem a, uma
vez por mês, visitar uma cidade do Espírito Santo para conhecer e registrar, além
da partilha diária que fazemos sobre fotografia por email (lista de discussão). É
espetacular ver colegas com celular, câmeras compactas, reflex profissionais e
toda a sorte de equipamentos – incluindo as famosas gambiarras – fotografando. Já
fomos matéria do Programa Em Movimento da TV Gazeta.

A tendência é que os grupos de fotógrafos ganhem mais visibilidade a cada dia.
A facilidade da realização da fotografia hoje (pegue o seu celular e ele tem uma
camera, sem dúvida nenhuma), com a integração das pessoas de interesses
semelhantes pela internet...tudo isso vai popularizar esses clubes, grupos.

Há pouco tempo, a imagem era de velhinhos que se reuniam com centenas de
negativos e câmeras ultrapassadas dentro de uma sala sombria. Não! Nunca foi isso
e, hoje, a imagem é ainda mais solar.

Por isso, não se pode esquecer: fotografia se faz saindo do sofá, levantando detrás
do computador e colocando o pé na estrada. Grupos de internet, orkut, FB, Twitter,
podem ser o começo. Mas fotografia é sol na cabeça, pé no chão, diálogo, amizade,
partilha (isso é o ponto alto dos fotoclubes), acertos e erros, fotos boas e muitas,
muitas fotos ruins pra aprender.

EeC: Quando é o momento certo para dar o clique?

E existe um? Do ponto de vista do "dedo nervoso" (a gente chama assim o povo
que dispara igual a uma metralhadora...), não se pode perder nem uma virada de
cabeça, nem uma mão no ar, nenhum voo, nenhum detalhe. Para outros mais
céticos, cada disparo tem que gerar uma foto perfeita, na fotometria, no foco, na
disposição dos elementos...


Não sou de nenhum desses dois grupos extremistas: a foto se constrói, assim como
se constrói uma redação, ou essas perguntas que vocês está me fazendo... nada
impede que depois de uma frase, você pense e faça melhor. Nada impede que
depois de um clique na horizontal você perceba que a imagem pede um clique na
vertical. Com o tempo, isso fica mais instintivo.

EeC: Quando você está em viagem, os registros são muito ricos, como as
luzes, detalhes muitas vezes que passam despercebidos quando são vistos
ao vivo. Você se doa para achar a expressão máxima do lugar, e conseguimos
sentir o seu encantamento por estar ali. Como é isto para você?

Primeiro, obrigado pela leitura que você fez. Uma grande alegria é exatamente ouvir
as pessoas dizerem: "- Mas eu nunca vi isso ali!", ou "- Isso que é simples ficou lindo
na sua imagem".

E uma das coisas que eu digo é, simplesmente: "-Obrigado por me permitir enxergar
certas coisas por você".



No fim, tudo se resume em contar histórias, viu? Retratar um lugar – e "o lugar" não
interessa: pode ser a margem do Rio Itapemirim, pode ser Paris às margens do Rio
Sena – é, obrigatoriamente, fazer parte dessa história.

Nos lugares, sejam viagens, andanças, shows, reuniões sociais, mesmo dentro
do estúdio, você tem que querer fazer parte daquilo. É engraçado, porque eu, que
estou apenas no começo, ainda consigo sentir e perceber o impacto dos primeiros
minutos de reconhecimento do espaço, das pessoas, do clima, para só então me sentir à vontade para os registros. Às vezes, são horas. Quando estive em Paris, no
começo de 2011, achei que aquele lugar fosse me engolir! Então, demorei mais pra
me sentir integrado. Em breve vou postar um texto que chamei de "Paris: a cidade
que nos engole".

Com o tempo, os mais experientes já fazem a leitura imediata das circunstâncias.
Mas para mim, sempre será uma experiência de absoluta imersão.

EeC: Como você se sente quando vê seu trabalho sendo reconhecido de
alguma forma?

Os mais ácidos costumam brincar com o ego dos fotógrafos. Chega a ser maior do
que o dos advogados!

Brincadeira à parte, ser reconhecido não é receber elogios, parabéns e coisas que
os valha. Não esnobo um elogio, óbvio. Faz bem, é gostoso e importante.

Mas "ser reconhecido" é o melhor: ver que alguém olhou grande parte do seu
material, percebeu a alma do fotógrafo ali, encontrou a si mesmo nos meus olhares.

Comprar minhas imagens é parte de um movimento, uma consequência. Eu quero
que as minhas imagens estejam nas casas, nos museus, nos salões, nas revistas,
internet, mas eu quero que elas representem a minha forma de expressão. É um
grito que eu quero que seja reverberado, e não se trata de prender minhas imagens
em molduras bonitas, impressas em papéis que vão durar 150 anos..

Eu quero ( todos nós queremos) poder ser ouvido. Escrevendo com a luz.

Ser reconhecido é poder responder a uma entrevista assim, tranquilo e com sorriso
no canto da boca, porque as minhas histórias visuais mexeram com as histórias da
Taynara Barreto. E espero que mexam com os leitores do Encontro e Café.

Valeu!