terça-feira, 10 de novembro de 2009

VESTIDO CURTO, UNIBAN E VOLTA ATRÁS: só não vale pena de morte!

A UNIBAN recuou na expulsão (idiota) da "dama de vermelho".

Acabo de ler no UOL (18:35): "UNIBAN vai aplicar ações educativas para aluna hostilizada e estudantes que a ofenderam". Mais à frente: "A primeira medida educativa será uma palestra com o Senador Eduardo Suplicy (PT-SP), no próximo sábado (14), às 19h. "http://noticias.uol.com.br/cotidiano/2009/11/10/ult5772u6018.jhtm






Palestras, sabado, 19 horas...COM EDUARDO SUPLICY!




Aí não... melhor a expulsão e a execração pública. A pena de morte é vedada no Brasil.

Acho que a moça está repensando a opção com os advogados...

domingo, 8 de novembro de 2009

DISTRITO 9: um tapa na cara



Para mim, Distrito 9 foi isso: um tapa na cara, espalmado, afrontoso, desconcertante.

Não precisa ser "o filme de todos os tempos" para nos tirar do lugar-comum (até porque, as produções atuais primam pelo continuismo chato do cinema-fortuna...). Se a câmera nervosa já não é novidade desde "A Bruxa de Blair" e debates sobre discriminação e temas extraterrestres podem ser encontrados em quase todas as prateleiras de locadora de DVD, conseguir misturar tudo isso com uma ótima dose de respeito ao telespectador, um orçamento reduzido (para os padrões hollywoodianos) e nos deixar verdadeiramente incomodados durante quase duas horas de filme já não é tarefa das mais fáceis de se concretizar e de se encontrar salas afora...

E Distrito 9, para mim, chegou exatamente lá. E a coisa toda é ainda maior do que as questões de racismo, discriminação, xenofobia... Essa primeira informação que podemos alcançar - e que existe, é verdade, mas não é a única - se deve, de modo especial, ao fato de o filme retratar os alienígenas "camarões" (identificados assim mesmo, bem pejorativamente), vivendo em uma verdadeira favela horizontal em um local marginal (o tal distrito do título), providencialmente localizado na cidade de... Joanesburgo, África do Sul. E lembrar das lutas contra o apartheid é natural. O filme foi rodado lá (na verdade, no próprio Soweto, local onde a segregação racial ganhou contornos simbólicos para a humanidade). O seu diretor (o novato e pertencente ao ramo publicitário, Neil Blomkamp, que fez um grande trabalho) é de lá. O intérprete do chatíssimo e depois avassalador Wikus van der Merwe (e depois imbecil e depois avassalador, e depois idiota e depois avassalador... nada mais humano que esse paradoxo interno/eterno), personagem principal, o estreante Sharlto Copley, é de lá (com um sotaque que fez Hollywood ficar vermelha de raiva, e uma vozinha típica daqueles chatos burocratas que encontramos em qualquer repartição pública). As manifestações populares sobre os aliens que aparecem durante o fime (que, por incrível que pareça, foram na verdade colhidas questionando a população local sobre os imigrantes ilegais - o que dá a noção de que, sejam ET´s, sejam nossos iguais, a humanidade gosta mesmo é de descartar, rejeitar, afastar o diferente, estereotipar...) vieram daquele local - e, portanto, carregam muito do ranço discriminatório, raivoso, doído e porque não dizer, de contornos históricos.

Mas ainda assim as coisas conseguem ir mais além (como se já não fosse bom o suficiente). Ver o ser humano lutando contra os "camarões" (cujas figuras foram construídas utilizando mais o velho esquema das fantasias originais do que da computação gráfica, o que os deixa ainda mais "comuns", "rotineiros", integrados ao ambiente no qual aparecem), ver o ser humano criticando, rejeitando, açoitando, matando sem dó nem piedade (e haja estômago, porque a violência e a morte são de um tom cru de revirar o estômago), aproveitando que esses não são ET´s-megalomaníacos-universais-dominando-a-humanidade, nos faz olhar a nós mesmos no que temos de mais aberrante. O que fazer com o que não conseguimos explicar ou controlar ?

Pior: talvez só sentindo alguma espécie de compaixão pelos enormes seres de além-espaço é que conseguimos perceber o que temos feito conosco mesmo.

Afinal, a mim pareceu doer muito mais ver aqueles seres em estado de miséria, comendo lixo, vivendo na imundice e sofrendo os diabos do que ver seres humanos, brancos, negros, vermelhos, amarelos, esquálidos, velhos, jovens, crianças, nas mesmas condições, como temos a oportunidade de ver no nosso mais tradicional dia-a-dia. O desumano, nos "camarões", dói mais que o desumano nos homens! Onde vamos (já fomos?) parar?

Ou seja: os aliens só precisam ser aliens porque, distanciando do próprio ser humano toda aquela raiva, sofrimento e dor que nos acostumamos a ver todo dia, nas ruas, nos jornais, nos bolsões de miséria muito perto de nossas casas, nas estradas, nas encruzilhadas, podemos começar a sentir de novo o tamanho das nossas crueldades, da nossa manipulação, do jogo de nossos interesses; quando as mazelas são lançadas, no filme, contra seres que a princípio reputamos nojentos, horrorosos, disformes, em algum momento acabamos encontrando neles a mesma fragilidade que um dia - um dia - já pudemos ver em nós mesmos, no outro, no nosso semelhante. O filme, não sei se conscientemente ou se isso que eu descrevo é uma sensação minha, naquela célebre idéia de que um texto depois de escrito pertence mesmo é a quem o lê, usa dos insetos de um modo curioso, para que possamos nos re-enxergar, passando primeiro pela figura tão estranha dos extraterrestres.




A jogada de identificar a estadia dos "camarões" na África do Sul, com a nave (de belíssima imagem!) repousando em sobrevoo sobre Joanesburgo durante 20 anos, também foi espetacular: 1- primeiro porque se sobrevoasse os EUA, ninguém poderia acreditar que os "salvadores do mundo", após duas décadas e centenas de problemas gerados pela visita nada convencional, não tivessem ainda tentado disparar uns mísseis Tomahawk contra a espaçonave; 2- porque olhar os fatos pelos olhos dos sul-africanos nos traz mais verossimilhança, mais humanidade, mais normalidade, mais naturalidade do que pelos olhos já estereotipados dos nova-iorquinos ou dos sempre vistosos habitantes de Los Angeles; 3- porque para nós (e essa verdade dói) sempre que um americano aparecer no vídeo ele será o melhor, o mais forte, o herói, o heróico em confronto com o mal, com o vil, com o destruidor do lado oposto - enquanto ver os sul-africanos aguentando aqueles problemas todos é ver e viver mais um problema a ser resolvido, como dezenas de outros que temos nas mãos e não sabemos o que fazer. E o que fazer?

Quanto à produção em si (que eu achei ótima, diga-se de passagem), fico com o que senti já pela primeira metade do filme: mais do que a câmera em ritmo frenético (o que nem é tão pesado assim e ainda diminui com o passar do tempo), o tipo de película utilizada com menos brilho (não sou nem um pouco conhecedor do tema, mas é o que eu arriscaria), uma nitidez mais para imagem de TV tradicional do que para HighDefinition, cortes rápidos, imagens desfocadas em vários momentos, tomadas aéreas misturadas às imagens em preto e branco das câmeras das emissoras que acompanhariam o desenrolar dos fatos, ajudam a deixar tudo ...natural. Visceral, talvez. Sem esquecer que visceral mesmo é o que começa a acontecer ao dualista herói-idiota/vilão-cativante, van der Merwe (e mais uma vez, haja estômago). Tudo é de uma realidade constrangedora.

Alguns diálogos são excessivos; a "narrativa" que as emissoras de TV fazem em alguns momentos do filme é exagerada. Mas "perfeição", perfeição, já seria demais. Chato mesmo é ver meia dúzia de ditos críticos intelectuais ficarem acusando o filme de clichê, ou de ser uma mistura de elementos básicos e ultrapassados - mas nenhum desses sabichões colocou um roteirinho sequer para que pudesse ser criticado pelos meros mortais (ou, quem sabe, pelos "camarões"!). Enfim... é o sagrado direito de expressão.

De cá, fica a sugestão forte, enorme, repetida 100 vezes se for preciso: vá assistir. É diversão certa - o que, para quem realmente gosta de cinema e quer exercitar mais do que dois neurônios, não significa risinhos (não há), pipoca (você não vai conseguir comer) e relaxamento (assisti quase de pé, ou passando a mão pelos cabelos). Pensar e criticar (a si mesmo, inclusive) pode ser divertido, nos faz melhores. Quase duas horas de pressão. Tem que aguentar. Como aguentaram os camarões. E o van der Merwe.

E pensar que a todo o tempo eles queriam o mesmo que nós.